Bem Vindo!

"Este blog nasceu como requisito da matéria de Seminário de Integração I, ministrada pelo professor Felipe Aço. O objetivo do blog é o de levar à público nossas experiências e elaborações em sala de aula, tornando assim, possível a interação e integração dos grupos, aflorando ideias e pontos de vista que muitas vezes não se manifestam em sala de aula".
Somos estudantes do 5º semestre do curso de Psicologia, com faixas etárias distintas. Acreditamos que os nossos caminhos não se cruzaram por acaso. Aprendemos muito uma com a outra e o convívio diário nos leva a uma leitura da realidade, a qual compartilhamos e nos induz a sairmos da zona de conforto, de forma desafiadora, e é nesse momento que também surgem divergências para as quais tentamos encontrar um equilíbrio e colocar em prática a constante aprendizagem integrando de certa forma as nossas vidas.

sábado, 26 de março de 2011

Aula do dia: 25.03.2011

Vídeos assistidos em aula:

A História das Coisas: Documentário que mostra como funciona o sistema capitalista de extração, produção,distribuição, consumo e tratamento de lixo. Mostra de maneira muito clara como todo o Sistema se baseia na exploração desde os recursos naturais até as pessoas. Como coisas são criadas para ir para o lixo (intencionalmente, o mais rápido possível). A verdadeira função dos governos e corporações que os apoiam, é criar uma Sociedade de Consumo a um rítmo acelerado.

A Ilha das Flores: Um premiado curta-metragem de 1989, Ilha das Flores é um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho.




Baseado-se no documentário e no curta-metragem, faremos uma análise crítica abordando a sustentabilidade.

·       É um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana.
·      Compreende as ações das empresas que visam elevar sua produtividade, melhorar seus produtos e métodos de gestão e contribuir para a preservação do meio ambiente.
·      Artifício utilizado por países desenvolvidos para garantir a exclusividade da prerrogativa de evoluir às custas dos recursos do planeta.
·      Quando a capacidade ou um conjunto de atividades de uma organização provêm suas próprias necessidades em todos os sentidos: financeiro, ambiental, etc.
·      Segundo o professor holandês Peter Nijkamp, a sustentabilidadeenvolve três aspectos: atividade economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente correta - o chamado Triângulo da Sustentabilidade.
·      Ter sustantabilidade significa assegurar o sucesso do negócio em longo prazo e contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, para um ambiente saudável e para uma sociedade estável.

Comentário do grupo:
Entendemos que sustentabilidade é a capacidade que um indivíduo, grupo de indivíduos ou empresas e aglomerados produtivos em geral; têm de manterem-se inseridos num determinado ambiente sem, contudo, impactar violentamente esse meio. Assim, pode-se entender como a capacidade de usar os recursos naturais e, de alguma forma, devolvê-los ao planeta através de práticas ou técnicas desenvolvidas para este fim. Desta forma, pode-se dizer que um empreendimento sustentável, devolve ao meio ambiente todo ou parte dos recursos que processou e garante uma boa qualidade de vida as populações que nele atuam ou que vivam nas imediações ou na área afetada pelo projeto, garantindo assim, uma longa vitalidade e um baixo impacto naquela região durante gerações. Muito além das definições, o ideal de sustentabilidade total, onde toda a influência provocada, por um agrupamento humano ou em empreendimentos; é anulado através dos procedimentos adotados. Mesmo assim, é importante ter em mente que adotar as práticas que transformem nossa presença em determinado lugar o mais sustentável possível é a única saída para determos a degradação ambiental que estamos experimentando nos últimos anos e as graves alterações climáticas que vemos causar grandes desastres em diversas partes do planeta. Para entender o que é sustentabilidade é muito mais conhecer seu significado bonito e orientado para empresas e organizações ligadas ao meio ambiente. É muito importante entender e saber que a adoção de práticas sustentáveis na vida de cada indivíduo é um fator decisivo para possibilitar a sobrevivência da raça humana e a continuidade da disponibilidade dos recursos naturais. Ao atuarmos de forma irresponsável e queimarmos indiscriminadamente nossos recursos naturais, sem dar tempo ao planeta para se recuperar, estamos provocando a escassez de recursos necessários a nossa sobrevivência e dificultando a vida de milhões de pessoas. Um exemplo clássico disso é a falta de água potável que muitas comunidades vêm enfrentando em alguns países e que, se uma forma mais grave de escassez se manifestar, acabará causando guerras pela posse e conquista das fontes de água potável remanescentes. Se todos entendessem a importância da adoção de práticas de sustentabilidade desde muito cedo; todas essas alterações climáticas poderiam ser evitadas ou retardadas ao máximo, e os recursos naturais estariam disponíveis e fartos por muito mais tempo. O que daria tempo para a humanidade buscar formas mais eficientes para resolver esses problemas em longo prazo.Ações aparentemente simples e de pouco impacto, quando tomadas por um grande número de pessoas, tornarão a sustentabilidade uma realidade palpável e real em qualquer parte onde haja a presença humana e garantirá a sobrevivência de nossa espécie por muito mais tempo.


quarta-feira, 23 de março de 2011

Debate: Psicanálise e Comportamentalismo Aula do dia 21.03.2011

Psicanálise e Comportamentalismo          

Skinner e Freud sem dúvidas são os dois maiores ícones da Psicologia, o primeiro conhecido pela filosofia do Behaviorismo que sustenta a Análise Comportamental, e o segundo, o pai da Psicanálise. Ambos defendem pressupostos teóricos bem antagônicos.
Para Skinner, as causas do comportamento estão sempre no ambiente, aqui não existe mente nem qualquer entidade interna presente no indivíduo - nenhum apelo ao mentalismo se faz necessário para explicar o comportamento; já Freud, construiu sua teoria apoiada em conceitos mentalistas, aqui se faz presente o dinamismo psíquico das pulsões entre as instâncias mentais do indivíduo - consciente, pré-consciente, inconsciente - que irão determinar o comportamento.
É comum dentro da Psicologia, alunos e até mesmo professores, defendendo seus pontos de vista baseado em puro radicalismo. Buscam elementos de um que não tem no outro e criam em torno disso uma série de conflitos que de nada adiantam.
Percebe-se que uma tem a ensinar para a outra e ambas não dão conta de tudo, como nenhuma outra teoria. São representações e não verdades. Atualmente, não se pode pensar no estudo do comportamento humano sem considerar a abordagem científica a este objeto: o campo da psicologia científica. Esse campo é disputado por diversos enfoques teóricos que divergem quanto ao modo como definem ciência e comportamento humano.
A abordagem de B. F. Skinner foi bastante proeminente no século XX, mas ainda continua a ser mal-entendida. Partindo do desenvolvimento histórico de sua obra, percebemos a importância de alguns aspectos relacionados às noções de ciência e comportamento humano desse autor e queremos ressaltar as transformações por que passaram. Analisam-se três tópicos da obra de Skinner: seu período inicial (de 1930 a cerca de 1938), a obra Ciência e Comportamento Humano) de 1953, e as influências da Biologia. São enfatizados aspectos relevantes da sua teorização sobre o tema: busca por relações funcionais, ênfase nos dados empíricos, operacionismo, externalismo, multideterminação do comportamento, experimentalismo, previsão, controle e ética.
A ilustração abaixo é apenas um modo de mostrar um pouco das diferenças entre esses dois pensadores que admiramos muito:


                           
                             


TEXTO: A Psicologia Newtoniana Aula do dia 18.03.2011

A Psicologia Newtoniana          

Em sua obra “Ponto de Mutação”, Capra descreve a aplicação do modelo cartesiano-newtoniano em algumas áreas, entre elas a medicina, economia e psicologia. Mas até que ponto o modelo newtoniano é uma boa abordagem que sirva de base para as várias ciências, e onde estão os limites da visão de mundo cartesiana nesses aspectos?

A concepção mecanicista da vida:

Na busca por uma nova visão da realidade, Capra explora os campos da física moderna e sua influência sobre o pensamento científico ocidental. Assim chegou a conclusão de que a ciência precisava de novas teorias para chegar mais perto da realidade. Ele ressalta a necessidade de nos preocuparmos mais com a divisão de mundo mecanicista, e as limitações de cada ciência neste contexto.
Em biologia a concepção cartesiana mecanicista dos organismos vivos são comparados com máquinas que são vistas e estudadas com fragmentos, com o objetivo de entender o todo. Vale ressaltar que o reducionismo foi bem sucedido na Biologia, seu ápice foram a descoberta da natureza química dos genes, seus conceitos de hereditariedade e revelações do código genético, porém com algumas limitações.
Quando encontravam fenômenos que não podiam ser explicados em termos reducionistas, os biólogos os consideravam como indignos de investigações. Logo após desenvolveram métodos curiosos para lidar com organismos vivos.
Embora tenha algumas limitações a maioria dos biólogos não se preocupou, pois o modelo cartesiano produziu vários progressos. Porém, Capra encontrou falha na abordagem cartesiana, talvez pela fragmentação do sistema. Ele cita como exemplo o cérebro que tem muitos mistérios a serem desvendados, principalmente em relação aos neurônios que não são entendidos pelos biólogos.
Em sua análise, o autor aposta na medicina para a solução dessas limitações. Pois a medicina adotou a abordagem reducionista da biologia moderna, usando o modelo cartesiano. Mesmo com reconhecimento por médicos, alguns problemas do nosso sistema médico vêm do modelo reducionista do organismo humano. Dessa forma, já estão sendo pressionados a desenvolverem um enfoque mais amplo e holístico da saúde. Transcender o modelo cartesiano será uma grande revolução na ciência médica.

Análise Crítica:

O autor do livro ponto de mutação é um fantástico pensador. Suas idéias a respeito das áreas abordadas por ele, levando em consideração a época em que ele viveu são bem aceitas e avançadas, porém, algumas informações citadas no livro não são mais a realidade de hoje. Na área da medicina Capra diz que os neurônios não são entendidos pelos médicos, e felizmente hoje com os muitos avanços, os médicos sabem qual parte do cérebro comanda cada uma das nossas ações, sem falar em outras descobertas como a descoberta de células-tronco, a terapia gênica, tomografia
computadorizada, entre outras, mas é claro que a questão dos altos custos e dos malefícios da tecnologia descritos por Capra ainda nos atingem. A biologia como sempre, continua caminhando com a medicina, o biólogo celular Bruce Lipton explicou que para um individuo normal, temos uma proporção de 200 mil neurônios conscientes e quatro milhões de neurônios inconscientes. Ele afirma também, que não são os genes que determinam nosso comportamento, mas sim o meio que nos rodeia e a forma como respondemos a esse meio. Outra importante descoberta da biologia foi a de novas proteínas. Já no meio ambiente algumas medidas vem sendo tomadas, apesar de serem poucas em relação à necessidade de nosso planeta.

Seminário: Racional e Intuitivo Aula do dia 11.03.2011

Entendimento do Grupo:

O “Racional” e o “Intuitivo” são modos complementares de funcionamento da mente humana. A razão prevalece sobre a intuição. Vivemos na era científica dominada pela razão. Alguns pensadores e estudiosos abordam a questão do lado esquerdo do cérebro que seria o “intelecto” (abstrato, analítico, linear) e o lado direito do cérebro que seria o “racional” (intuitivo, imaginativo, subjetivo).
O pensamento “Racional” que seria o Yang (masculino) é linear, concentrado, analítico, claro, objetivo. Pertence ao domínio do intelecto, cuja função é discriminar, medir e classificar. O conhecimento racional tende a ser fragmentado. Gera atividade egocêntrica. A razão permite identificar e operar conceitos em abstração, orientada para objetivos. É a forma mais fiável de descobrir o que é verdadeiro.
O conhecimento “Intuitivo” baseia-se numa experiência direta, não-intelectual, da realidade em decorrência de um estado ampliado de percepção consciente. Tende a ser sintetizador, holístico e não linear. É um processo pelo qual os humanos passam, às vezes e involuntariamente, para chegar a uma conclusão sobre algo. A intuição leva o sujeito a acreditar com determinação que algo poderá acontecer. É a realidade sentida e compreendida absolutamente de modo direto, sem utilizar as ferramentas lógicas do entendimento: a análise e a tradução. O raciocínio é inconsciente na intuição.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Aula do dia: 14.03.2011

O PONTO DE MUTAÇÃO (autor: Fritjof Capra)

CAPRA analisa os organismos sob a perspectiva sistêmica da biologia, desde que começou a ser estudada. Comprara os organismos às máquinas, assim como Descartes e Newton comparavam o corpo de animais a um relógio. Embora seja imprescindível que se conheça as “peças” é preciso observar os processos e não as estruturas. A primeira diferença básica é que as máquinas são construídas e os organismos crescem. Enquanto a estrutura mecanicista tem suas atividades baseadas na funcionalidade de sua estrutura, a orgânica é desenvolvida visando os processos que irá desempenhar. Os sistemas naturais são essencialmente dinâmicos, por isso, deve haver uma interação e interdependência entre organismos e o meio.
Após o surgimento da física quântica, o mecanicismo revelou-se uma maneira imprecisa e obsoleta de se observar o universo. A física quântica opõe-se a ideia de que para entender o todo é preciso fragmentá-lo, e é nesse contexto que a visão sistêmica ganha força. Essa teoria tem como fundamentos o processo, a mudança, a flutuação, os ciclos e a auto-organização. 
Portanto, a dinâmica subjacente aos principais problemas de nosso tempo, o câncer, o crime, a poluição, o poder nuclear, a inflação, a carência de energia, é sempre a mesma. Chegamos a uma época de mudança dramática e potencialmente perigosa; um PONTO DE MUTAÇÃO para o planeta como um todo!

terça-feira, 15 de março de 2011


O QUE É, O QUE É?

TEXTO PARA REFLEXÃO: “A PIPOCA QUE SOMOS”

A culinária me fascina. De vez em quando até me atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso o que aconteceu.
A pipoca, um milho mirrado, grãos redondos e duros, sempre me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.
A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. A pipoca é o milho mirado, subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu ninguém jamais poderia ter imaginado.
Repentinamente, os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros, quebra-dentes, se transformavam em flores brancas e macias, que até as crianças podiam comer. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica sempre do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação, também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: PUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Em Minas, piruá é o nome que se dá às mulheres que não conseguem casar. Mas acho que o metafórico dos piruás é muito maior. Piruás são os milhos de pipoca que se recusam a estourar, como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito de ser delas. Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida, perde-la-á". A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar milho a vida inteira. Não vão se transformar em flor branca, macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminando o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás, que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Na simbologia cristã, o milagre do milho de pipoca pode ser representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca.  É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro. 

(Extraído do livro: “O amor que acende a lua” de Rubem Alves)

Pensamento: “Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.”

 COMENTÁRIO DO GRUPO:

A Psicologia tem sua gênese e prática tradicionalmente voltada a normatização e adaptação do comportamento às regras vigentes e diferentes sociedades. Diante de uma leitura crítica de sua atuação, é uma área de conhecimento que acentuou o individualismo como ferramenta de controle e aplicação de sistemas de disciplina, a serviço da sociedade industrial e capitalista, servindo de coadjuvante aos poderes de dominação e governabilidade dos povos e organização das pessoas.
Ainda que haja tendência de práticas libertadoras a forte herança de normalização permanece, seja nas práticas de sujeição aos modelos de uma “sociedade normal”, seja pelas práticas de caracterização de patologias universalizadas e padronizadas, sob as quais se encaixam os sofrimentos e diferenças consideradas anormais.
     E considerando que:
·        Se a Psicologia é uma prática institucionalizada de um ramo da ciência ocidental, que busca a homogeneização e o controle por meio de uma subjetividade individualizada;
·        Se a vida e a ética, bem como o poder se dá nos encontros, se é necessário portanto um olhar heterogenético da construção da vida e dos sistemas e regimes de verdade;
         Questionamos se:
É necessária uma nova prática crítica que seja transgressora da norma, e que semeie um modo questionador das verdades ou da verdade estabelecida, ou cientificamente preconizada?
Seria porventura necessário um espírito anarquista que transversalize o fazer Psi?
É necessária uma epistemologia da desorganização, porém que não seja individualista, pois que se faz no encontro, nasce do encontro da diversidade, se estrutura na pluralidade, tem sua gênese na heterogeneidade, e conserva e afirma das exceções, fragilizando as regras, e que justamente por isso é dinâmica e volátil?
Não precisaria a Psicologia ser anarquista, transgressora e desorganizadora, que rompa a homogeneidade pretendida e afirme o indivíduo, porém, remetendo-o à construção de si e de suas desconfianças de verdade no coletivo, no encontro com o outros, as outras?
 Numa linguagem parabólica, figurada:
A Psicologia pode servir como o fogo que aquece a água que está dentro do próprio grão de milho, que por si executa a transformação de seu estado fechado, encapsulado, desagradável para a fruição para um estado de maioridade (o grão no mínimo triplica seu tamanho, seu lugar no mundo), de estética (o grão de milho que nas culturas astecas e mais era considerada uma “gota” do sol, tem agora a cor branca, resultado da união de todas as cores, um símbolo da diversidade. Além disso é agradável ao paladar.) e de subjetivação (cada grão passa pelo mesmo processo – a água evapora em seu interior – porém cada grão forma uma pipoca de diferentes formas, aspectos e tamanhos).

quarta-feira, 2 de março de 2011

Saúde mental - Rubem Alves Aula do dia: 28.02.2011


 


"Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei.

Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.Eu me explico.Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se.Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham... Eram lúcidas demais para isso.Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software.

O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.

Não se conserta um programa com chave de fenda.Porque o software é feito de símbolos e, somente símbolos, podem entrar dentro dele.Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!

Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio:
A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, "saúde mental" até o fim dos seus dias.

Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes.
A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?

Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.
Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram..."


Comentários do grupo:
Ou vivemos na banalidade, ou corremos riscos e nos aperfeiçoamos. O importante é não ficar alienado; ter equlíbrio e não se contaminar com a loucura e com a banalidade.
Sempre existiu o diferente, mas, não necessariamente é o louco; existe um respaldo social para a expressão cultural. Nietsche decifrava as coisas do seu interior (demônios internos), ele expressou-se, porém, as pessoas não souberam entender e interpretá-lo, e contudo, não teve condiçoes de "segurar" isso.
Sempre partimos de uma normalidade social, mas as pessoas que foram referências, nem sempre estão inseridas naquilo que denominamos de normalidade. Metaforicamente, Rubem Alves foi muito claro a respeito disso.